Janete Trevisani
janete@rac.com.br
O professor Paulo Lot Jr., da PUC-Campinas e da USF-Universidade São Francisco, atua principalmente nas áreas de gestão estratégica de pessoas e organizações. Aos 51 anos, ele trabalhou na Pirelli Pneus, Bradesco Seguros e Alcoa Alumínios, antes de seguir carreira solo como palestrante e consultor organizacional. O site que leva o seu nome (www.paulolot.com.br ) mostra que conhecimento faz a diferença. Com vários artigos publicados sobre gestão moderna, ele diz que, para quem tem conhecimento atualizado, a experiência conta pontos na hora de encontrar trabalho, bem como a capacidade para enfrentar desafios. "Cada vez mais o mercado exige um elevado grau de desenvolvimento pessoal e profissional", diz, nesta entrevista, que aborda as características do profissional do futuro e as de um bom gestor.
Metrópole - Como enfrentar o mercado depois dos 40 anos? Isso tem mudado?
Paulo Lot Jr - Manter-se competitivo após os 40 anos é uma tarefa que exige dedicação e determinação por parte do profissional. É, sim, possível fazer da experiência acumulada em anos uma aliada, um diferencial profissional. Para isso, características importantes não podem deixar de existir com o passar dos anos: capacidade de inovar, flexibilidade, disponibilidade de conhecer coisas novas e interesse em investir tempo e dinheiro na carreira. Um número cada vez maior de profissionais com mais de 40 anos busca se especializar e desenvolver habilidades que favoreçam sua competitividade. Essa é a única maneira de o profissional não se tornar descartável.
Como ingressar no mercado de trabalho do futuro?
Cada vez mais o mercado de trabalho exige um elevado grau de desenvolvimento pessoal e profissional. A empregabilidade depende, e muito, da capacidade de inovar, flexibilidade, disponibilidade de conhecer coisas novas, bem como capacidade de se relacionar e produzir em equipe. O desenvolvimento profissional pode ser obtido através de cursos regulares, leituras, coaching, especializações e intercâmbio profissional no Exterior. Falar inglês é imprescindível para o profissional que deseja ter boas oportunidades. O desenvolvimento pessoal torna-se cada vez mais importante, e é também comum encontrarmos profissionais buscando orientação para saber lidar com estresse, conflitos, alto nível de exigência e ansiedade que o mundo corporativo e globalizado impõe a todos. O desenvolvimento pessoal dará à pessoa a capacidade de formar um networking sadio, mantendo bons contatos, ampliando sua rede social sem constrangimento e na medida certa.
Qual é o papel de um bom gestor?
Um bom gestor é aquele que consegue realizar suas atividades de planejamento, liderança, organização e controle, sem perder de vista o lado humano. Tem sempre em mente seu autodesenvolvimento, bem como o de sua equipe. Identificamos um bom gestor quando encontramos ética profissional, quando observamos aquele líder que se preocupa com seu grupo, individualmente, valorizando habilidades e capacidades. Também quando encontramos o profissional que tem em mente e em foco o negócio da empresa, o objetivo que leva aquele grupo a estar ali. É necessário que tenha habilidade para enfrentar desafios, que compreenda a complexidade do trabalho, bem como o conhecimento do ambiente em que esta empresa está inserida.
Quais as empresas que não conseguem segurar talentos?
Antes as pessoas vestiam a camisa da empresa, por se sentirem seduzidas por estabilidade, salários e assistência médica; hoje isso já não é realidade. Há quem busque salário, mas há quem aceite ganhar menos em troca de reconhecimento, satisfação pessoal, qualidade de vida, desafios, carreira ou visibilidade na sua área. O segredo é como mantê-los. O grande desafio é atender aos anseios das pessoas, tratando-as de forma individualizada e entendidas por suas necessidades específicas. Quem puder satisfazer essas necessidades conseguirá reter seus talentos. As empresas que não perceberam isso, somente os detêm, e correm o sério risco de perdê-los a qualquer momento. As pessoas buscam cada vez mais organizações alinhadas com seus valores e que, de uma forma dinâmica, alimente e renove valores e expectativas pessoais. Os funcionários precisam agora ser vistos como pessoas por inteiro e não apenas como uma simples mão-de-obra. O assédio da concorrência é grande nesse mercado extremamente competitivo. Portanto, torna-se necessário que toda organização tenha uma política de recursos humanos com programas bem estabelecidos de bônus, retenção e planejamento de carreira. Está comprovado que se no ambiente de trabalho existir confiança, credibilidade e respeito na relação chefe-subordinado-empresa, se a pessoa tiver orgulho do trabalho, sentimento de equipe e de colaboração, o empregador terá muito mais chances de reter seus talentos.
A incapacidade de lidar com as emoções acaba com muitas carreiras?
Sim. A dificuldade em lidar com situações que envolvam sentimentos, capacidade de conciliação, estresse, confiança e reconhecimento tem levado muitos profissionais a quadros depressivos, de baixa motivação, de confusão quanto à sua escolha profissional, baixa estima e insegurança quanto à sua capacidade. Ainda hoje encontramos profissionais, grupos e até mesmo empresas que insistem em dissociar o trabalhador da pessoa. A equipe de trabalho se ressente e tem seu desenvolvimento prejudicado quando acontecem situações de demissão no grupo, doenças, pressão desmedida, conflitos, e estas são vistas com desdém. O auto-conhecimento, o entendimento das emoções e sentimentos, são primordiais para o equilíbrio e desenvolvimento do profissional. Todo o planejamento de carreira deve considerar esses fatores.
Como ser desejado pelo mercado?
Em primeiro lugar, fazer uma análise do que o mercado está exigindo dos profissionais de sua área. Identificar competências, entendidas aqui como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes a serem desenvolvidas, trará para seu currículo um diferencial. Também é muito importante cuidar de seu desenvolvimento pessoal e networking.
Qual a melhor forma de manter uma equipe motivada?
Levar em consideração as necessidades do grupo e de cada pessoa. Uma das maneiras de realizar isso é através de um plano de carreira detalhado, e de avaliações de desempenho, onde quem está sendo avaliado pode falar, expor dificuldades e expectativas. A equipe precisa encontrar atividades que representem desafios e crescimento, isso sem deixar de considerar a satisfação de necessidades individuais importantes, como salários, benefícios, programa de incentivos, lazer, relacionamento com o grupo e família.
Muitas empresas não conseguem encontrar gente qualificada?
Encontramos um número cada vez maior de faculdades e cursos, que preparam rapidamente e sem conteúdo relevante para o mercado, um número expressivo de profissionais. Assim temos todos os anos estudantes que entram para o mercado de trabalho buscando empregos promissores, com planos de carreira convidativos, mas que possuem uma qualificação pobre. Como essas pessoas vão competir? Muitas estão realmente qualificadas e continuam correndo para manter-se muito competitivas. É necessário avaliar também que, quanto mais qualificado está um profissional, mais exigente também ele será em relação à escolha da empresa.
Fonte: Revista Metrópole
